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Lavagem do Porto | Uma festa que vai da alegria à recompensa histórica

Milhares de pessoas a caminho do lago, o sorriso no olhar das baianas vestidas na real representação da religião de matriz africana. Comércio efervescendo. Dinheiro circulando e as oportunidades sendo de novo uma realidade

20/02/2020 às 14h40 Atualizada em 10/03/2020 às 01h42
Por: Correio Fonte: Correio da Cidade
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Foto | Otto Ribeiro
Foto | Otto Ribeiro

Quem esteve no último domingo no Porto Castro Alves – Rio Paraguaçu – em Santo Estevão, talvez não se recorde que aquele espaço natural já sofreu uma verdadeira devastação, quando ocorreu a chegada da barragem de Pedra do Cavalo, na década de 80. Casas foram submersas, sonhos foram deixados para trás. Naquele domingo (16), o que reinava era a alegria, a fé, a contemplação à mãe natureza.

Milhares de pessoas a caminho do lago, o sorriso no olhar das baianas vestidas na real representação da religião de matriz africana. Comércio efervescendo. Dinheiro circulando e as oportunidades sendo de novo, uma realidade.

“A lavagem traz o sentido de agradecimento, e a realização da festa tem como motivação principal, trazer à tona a contextualização da existência do lago de Pedra do Cavalo, marco para a manutenção da população regional. É com a importância desse rio, a lembrança de Castro Alves, a existência dos nossos ribeirinhos, por seu porto de travessia, que irmanados, trazem esse momento festivo, que ilumina Santo Estevão, as cidades vizinhas, Salvador e sua região metropolitana, para juntos comemorarem a grandiosidade desse reservatório que traz garantia para a vida de tantos”, escreveu em seu artigo, o professor e historiador Francisco Anísio Costa Pinto, que também é um fiel entusiasta do evento.

No lado econômico na festa, foi uma verdadeira euforia. Comerciantes locais, ambulantes estão satisfeitos com as vendas naquele domingo. “Esta edição da lavagem para nós foi perfeita. Até o palco foi instalado estrategicamente num local onde beneficiou nós que somos comerciantes do local, bem como os vendedores ambulantes”, frisou Armildo Nogueira.

14 quilômetros de onde ocorreu a lavagem está uma pizzaria e restaurante que ficou lotada após o evento. “Foi uma correria. Clientes que vieram da festa e consumiram nos restaurantes da cidade. Com um evento deste não há como não movimentar a economia local. Quem vive do comércio sabe como os eventos na cidade nos ajudam, ajudam a todos”, disse William Alves Santos, dono do Feijão de Corda.

Marise Fiúja tem 18 anos e viu na Lavagem um momento impar de conhecer o seu ídolo Marcio Victor. “Ganhei este presente. Nunca tive a oportunidade de ir a um show de minha banda predileta e essa festa aqui perto de casa me deu essa alegria”, disse a estudante enquanto ajudava sua tia a vender garrafas de água mineral. “Cinco da tarde não tinha mais produto para vender. Agora é voltar para casa feliz por ver meu ídolo e com dinheiro no bolso”, completou aos risos.

A FESTA E A HISTÓRIA - A barragem mudou a nossa região e fez desaparecer pontos notáveis, como as cachoeiras Marcela e Roncador, diversas corredeiras, e a beleza natural de um rio perene, que nasce na Chapada Diamantina, e entrega suas águas na Baía de Todos os Santos, depois de percorrer 600 km. As águas do rio Paraguaçu alimentam o povo, e o que excede se encontra com o mar. A cidade de Cachoeira, tão importante na história do Brasil, que sofria em tempos de cheia, tem a barragem como importante marco de proteção de seu povo e a garantia de preservação de seu conjunto arquitetônico, conhecido internacionalmente.  E a lavagem do Porto é, sem dúvidas, uma verdadeira recompensa história por tudo que a população ribeirinha sofreu. A lavagem é o sinônimo do recomeçar.

FONTE DE VIDA - É importante lembrar que nos dias atuais, o rio se transformou num grande reservatório de água, que serve para alimentar as comunidades da região, fornece água para comunidades distantes, sendo responsável pelo fornecimento de mais da metade da água consumida por Salvador e região metropolitana. Além do fornecimento de água, Pedra do Cavalo é responsável pela geração de energia, irrigação agrícola, pesca e piscicultura, e navegação turística para o lazer. Pedra do Cavalo é também responsável pela geração de emprego e renda no Estado, com benefícios para os municípios no entorno do seu lago. “Não podemos esquecer o lado triste dessa obra, onde mais de trinta mil pessoas foram desalojadas de suas comunidades, sendo relocadas, sofrendo o impacto ao serem retirados das regiões ribeirinhas aonde habitavam tradicionalmente, e de onde retiravam o seu sustento”, ressalta Francisco Anísio.

ORIGEM DO NOME “PEDRA DO CAVALO” - Uma lenda da tradição oral indígena conta que no rio Paraguaçu, na região acima da Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, nas épocas de estiagem, vez por outra aparecia em cima de uma pedra, um cavalo de asas com a pelagem branca, e quando esse cavalo era visto se banhando nas escassas águas do rio, trazia a garantia de fertilidade naquele ano, com a certeza de boas colheitas e fartura. Conta uma lenda que escravos se deitavam para descansar nas pedras ao lado do rio e começavam a ter visões de cavalos correndo, por isso o nome de Pedra do Cavalo.

Parafraseando a cantora nascida no recôncavo baiano - Maria Bethânia - que poeticamente traduziu em palavras cantadas a magia das águas dos rios: "Louvar a água de minha terra, o chão que me sustenta... Agradecer as nuvens que logo são chuva, que sereniza os sentidos e ensina a vida a reviver. Agradecer, ter o que agradecer, louvar e abraçar."

Reportagem | ALYSSON RIBEIRO 

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