Elas são mães solteiras, idosas chefes de família e moram em periferias. Penalizadas pela perda do emprego ou de benefícios sociais como o Bolsa Família, têm renda que não passa de R$ 200 para sustentar até seis crianças. Um perfil recorrente entre famílias que voltaram a conviver com um velho fantasma brasileiro: a falta de recursos para comprar comida. Três anos após a ONU tirar o Brasil do mapa mundial da fome, relatório produzido por mais de 40 entidades civis do país alerta que o cenário atual é de reversão da conquista obtida em 2014. O documento será entregue na próxima semana às Nações Unidas, em Nova York. Os relatos colhidos pela reportagem dão uma amostra do drama que já é realidade em lares brasileiros. Mas admitir que a geladeira está vazia não é fácil.
Rita de Cássia é mãe de seis filhos de 14, 12, 10, 8, 5 e 3 anos. Ela, que é cozinheira e faz faxinas, e o marido, pedreiro, estão desempregados. A única renda mensal garantida são R$ 120 do Bolsa Família. Vivem em uma casa alugada na comunidade de Urucânia, Bairro Santa Cruz, mas estão sendo ameaçados de despejo porque estão com cinco aluguéis de R$ 500 cada atrasados.
Renata é mãe solteira de dois meninos de 10 e 6 anos, vive em Vendas de Varanda, comunidade de Santa Cruz, em um quarto e cozinha improvisados no pátio da mãe, onde há outros dois casebres erguidos. Ela está sem trabalho há cerca de um ano e há seis meses teve os R$ 160 do Bolsa Família cortados.
Maria de Fátima Ferreira é cozinheira, mas está desempregada desde novembro do ano passado. Vive com a neta, de seis anos, e outros dois filhos, já adultos, em um casebre no alto da comunidade de Canaã, em Santa Cruz. Ela vive com R$ 154 do Bolsa Família e os filhos fazem bicos.
Vanderléa Gomes Santos é mãe dois filhos, de 11 e 13 anos. Recentemente se separou do marido e foi morar com os filhos em uma casa alugada por R$ 400 mensais na comunidade de Nova Jérsei, em Paciência. Teve de largar o trabalho como atendente de lanchonete depois de descobrir que o filho mais novo estava deixando de ir à escola. Borda em casa aplicações, a R$ 4 cada, para uma empresa têxtil. Consegue tirar cerca de R$ 150 mensais. O aluguel é pago por sua mãe.
Andressa Gonçalves de Oliveira é mãe de um menino de 8. Separada do marido, mora em uma casa inacabada em uma comunidade de Madureira. Desempregada há um ano, a auxiliar de serviços gerais vende cafezinhos em filas de seleção de emprego para aumentar a renda, que consiste apenas na pensão de R$ 170 do filho. Consegue tirar mais R$ 150 por mês.
Rubens era vendedor até descobrir ser soropositivo, há cinco anos. Não só perdeu o emprego na época, em uma loja de móveis, como nunca mais conseguiu trabalho. Diz ser vítima de preconceito. Vive sozinho em uma casa alugada por R$ 600 em Recife, paga pela mãe, que vive no interior de Pernambuco.
Desempregados, servidores estaduais sem salário e moradores de rua também sofrem da falta de dinheiro para comprar comida e recorrem à única unidade aberta de um restaurante popular no Rio de Janeiro, em Niterói.
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