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Santo Estevão: Alegria do Bumba-meu-boi vai contagiar a cidade no domingo (24)

O Auto de bumba-meu-boi teve origem no Ciclo do Gado, no século XVIII, e resultou das relações desiguais que existiam entre os escravos e os senhores nas casas grandes e senzalas. Refletia as condições sociais vividas pelos negros e índios à época.

19/06/2018 às 11h47 Atualizada em 19/06/2018 às 17h28
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Correio da Cidade
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“A alegria do boi Janeiro nas ruas e no teu coração “: esse é o tema deste ano da tradicional festa de Bumba-meu-boi, que em Santo Estevão acontece no períódo juninio. 

No domingo (24), o evento promete um encontro da tradição nordestina com a cultura santo-estevense.

A organização do evento promete fazer o público  viajar na história e dançar muito forró e frevo com o boi Janeiro, ao som da orquestra de metais Cruzeiro do Monte, a partir do meio dia.

Na concentração do Bumba-meu-boi, no Cruzeiro do Monte, o público ainda poderá saborear a tradicional feijoada, brincar e dançar com a criançada, e correr atrás do boi Janeiro.

O evento é marcado como uma festa pública e simples, que interage com a comunidade.

A história | O Auto de bumba-meu-boi teve origem no Ciclo do Gado, no século XVIII, e resultou das relações desiguais que existiam entre os escravos e os senhores nas casas grandes e senzalas. Refletia as condições sociais vividas pelos negros e índios à época.

Ele é contado e recontado através dos tempos na tradição oral nordestina.

A lenda da origem do bumba-meu-boi adquire contornos de sátira, comédia, tragédia e drama, dependendo do lugar em que se insere, mas sempre levando em consideração a história de um homem e um boi.

Há um contraste entre a fragilidade do homem e a força bruta do boi.

Existe também uma lenda que conta a história de um vaqueiro de prenome Chico, que para atender o desejo da mulher Catrina que estava grávida, matou o melhor boi que existia na fazenda onde residiam para tirar a língua, sendo necessário o uso de rezas para reviver o boi, caso contrário, o patrão mataria o vaqueiro. Essa é a mais emocionante história, vez que o Auto de Bumba-meu-boi traça os contornos da morte e ressurreição do boi.

Em nossa terra ele recebe o nome de boi JANEIRO.

O bumba-meu-boi tem nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes a depender da região onde é apresentado. Ele é conhecido por Boi-Bumbá, Pavulagem, Boi Calemba, Bumbá, Boi de Reis, Boi Surubim, Boi Zumbi, Boi Janeiro, Boi Estrela do Mar, Dromedário, Mulinha-de-Ouro, Boi de Mourão, Boi de Mamão, Bumba, Folguedo do Boi, Boizinho, Boi de Jacá e Dança do Boi.

A festa tem quatro momentos: a Entrada ou Juntada, quando os participantes se organizam para sair, o Lá Vai, que é o aviso para o dono da casa ou do lugar indicando que o grupo está chegando, a Licença, que é o pedido para dançar na frente da casa ou lugar escolhido, e por fim a Despedida ou Levanta, que é quando a o grupo sai e segue para outro lugar.

 E o bumba meu boi nos ensina a aprender e conviver com a crítica, porque foi ela quem marcou no tempo, há muito, a nossa existência. 

E Para valorizar a Crônica popular dos costumes de nossa terra, nesse ano vamos  homenagear o Fundador de nossa cidade, Padre Antônio da Costa e Almeida, o Organizador da comunidade, Padre Antônio Rodrigues Nogueira, e o 

Primeiro padre santo-estevense, Monsenhor Odulpho Figueiredo, sem esquecer daqueles que possibilitaram o crescimento pela força de sua Mão-de-obra no campo e na sede, tenham sido eles, Vaqueiros,  lavradores, artesãos, quituteiras, lavadeiras, e tantos outros valorosos homens e mulheres.

É preciso conhecer e valorizar a história. Eis o primeiro registro escrito do bumba meu boi, feito pelo padre pernambucano Miguel do Sacramento Lopes Gama, em 1840:

 A estultice do bumba-meu-boi

 De quantos recreios, folganças e desenfados populares há em nosso Pernambuco, eu não conheço um tão tolo, tão estúpido e destituído de graça como o aliás bem conhecido bumba-meu-boi. Em tal brinco não se encontra nenhum enredo, nem verossimilhança, nem ligação; é um agregado de disparates. Um negro metido debaixo de uma baeta é o boi; um capadócio, enfiado pelo fundo de um panacu velho, chama-se o cavalo-marinho; outro, alapardado sob lençóis, denomina-se burrinha; um menino com duas saias, uma da cintura para baixo, outra para cima, terminando para a cabeça com uma urupema, é o que chama a caipora. Há além disto outro capadócio que se chama o pai Mateus.

O sujeito do cavalo-marinho é o senhor do boi, da burrinha, da caipora e de Mateus. Todo o divertimento cifra-se em o dono de toda esta súcia fazer dançar, ao som de violas, pandeiros e de uma infernal berraria, o tal bêbado Mateus, a burrinha, a caipora, o boi (que com efeito é animal muito ligeirinho, trêfego e bailarino). Além disto o boi morre sempre sem quê nem para quê, e ressuscita por virtude de um clister que pespega o Mateus, coisa muito agradável e divertida para os judiciosos espectadores. Até aqui não passa o tal divertimento de um brinco popular e grandemente desengraçado. Mas de certos anos para cá não há bumba-meu-boi que preste, se nele não aparece um sujeito vestido de clérigo, e algumas vezes de roquete e estola para servir de bobo da função. Quem faz ordinariamente o papel de sacerdote bufo é um brejeirote despejado, e escolhido para desempenhar a tarefa até o mais porco e nojento ridículo. Em um país católico romano consente-se e aplaude-se que na maior publicidade sirva de bobo um bandalho disfarçado em sacerdote, e com as vestimentas do culto. E para complemento de escárnio esse padre bufo ouve de confissão ao Mateus, o qual negro cativo faz cair de pernas ao ar o seu confessor, e acaba, como é natural, dando muita chicotada no sacerdote! Quem acreditará que tal se consinta e aprove em uma província das mais polidas do império? Como é possível ludibriar e escarnear mais o estado sacerdotal? (...) Querem sinal menos equívoco de desprezo e abjeção a que tem chegado entre nós o ministério sagrado, e conseguintemente a religião?

O Carapuceiro, n. 2 (11/01/1840)

Em SANTO ESTEVÃO essa tradição começou por volta de 1943, durante a 2ª guerra mundial. Era uma alegria só quando Bernardino de Inácio, acompanhado de seu filho Pereira (mais conhecido por Sêo Pereira), Conrado, Cezínio (da galinha), João de Eustáquio, Antonio do Morro e seu primo Estevão do Morro, Tonho Braga e Tonho de Caboclo da Serrinha, este último que dava vida e movimento ao boi (ele era o tripa, como chamamos). As apresentações do bumba-meu-boi ocorriam no centro histórico de Santo Estevão, nas ruas conhecidas por Pulo do Bode, Praça da Lua, Rua do Padre, Rua das Quinze Casas, Rua Benjamin Constant, Praça da Prefeitura e Rua do Cemitério. Era o centro que existia até a metade do século XX. As apresentações desse grupo se seguiram até 1962. Em 1982, Fiim de Inês (neto de Bernardino e filho de Sêo Pereira) juntou-se aos amigos Péu de Pedro Soldado, Djalma de Dolores (Bob zueira), Têvo de Buque e Chico de Inês, dentre outros, retomando as apresentações nas ruas de nossa cidade até 1995. Em 1999 o professor Francisco Anísio (Chico), primo de Fiim de Inês, monta um Bumba-meu-boi para apresentações na Escola Tancredo Neves, onde lecionava. Já no ano de 2005, após iniciar as atividades do bar Vivenda do Monte, Francisco Anísio e seus familiares montam uma apresentação de Bumba-meu-boi, revivendo a saga do boi, saindo do Cruzeiro do Monte, passando pelas ruas do Centro da cidade, indo até a Praça Sete de Setembro onde se realizam os festejos juninos promovidos pela Prefeitura Municipal. Daí em diante não mais parou o festejo.

2018 é mais um ano de festa sob o comando de Chico, Têvo de Buque, Bubui, Mazinho, Tinho, Júnior, Mateus, Denice, e diversos outros moradores das ruas do Monte, Alto do Cruzeiro, Matadouro, Santo Estevão, Mutirão e outros logradouros vizinhos, além dos tantos visitantes de outras comunidades.

Esta festa é uma justa homenagem àqueles que mantiveram e mantém vivas as tradições populares do nosso povo.

A pesquisa histórica contou relatos de pessoas da comunidade, dentre elas Chico de Marcílio, professora Maria Adélia, Antonio do Morro, Fiim de Inês, além da coleta de informações disponíveis na internet.

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