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Financiamento estudantil é fundamental para ampliar o ensino superior, defendem debatedores
Palestrantes de audiência pública na Câmara dos Deputados sustentam que, sem programa de financiamento estudantil sustentável, o Brasil não vai ati...
10/08/2023 20h40
Por: Correio Fonte: Agência Câmara de Notícias
Lúcia Teixeira: "4,5 milhões de jovens poderiam demandar bolsa de estudos do governo - (Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados)

Palestrantes de audiência pública na Câmara dos Deputados sustentam que, sem programa de financiamento estudantil sustentável, o Brasil não vai atingir a meta de ter 33% dos jovens matriculados no ensino superior. O objetivo está previsto no Plano Nacional de Educação já para o ano que vem.

Hoje, menos de 18% da população entre 18 e 24 anos frequentam algum curso superior, conforme ressaltou a presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior de São Paulo, Lúcia Maria Teixeira. Segundo a especialista, 4,5 milhões de jovens poderiam demandar bolsa de estudos do governo, por pertencerem a famílias de baixa renda, mas não contam com essa possiblidade.

“Essa ausência de políticas públicas tem provocado recuo nas taxas de escolarização e nos distanciado ainda mais da nossa meta. A realidade da população brasileira demonstra que não haverá desenvolvimento do ensino superior sem essa política pública que dê acesso aos mais carentes”, afirmou.

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De acordo com Lúcia Teixeira, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 90% dos estudantes do ensino superior têm renda de até três salários mínimos. Desses, quase metade receberiam somente um salário e meio mensal.

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Reformulação do Fies
A audiência pública da Comissão de Educação discutiu proposta (PL 2961/22) do deputado Átila Lira (PP-PI) que reformula o Fies. O debate ocorreu a pedido do próprio parlamentar.

Pela proposta, estudantes com renda de até 1,5 salário mínimo por mês teriam direito à bolsa integral. Alunos com renda familiar per capita de até três mínimos pagariam somente 50% do valor financiado.

Segundo Átila Lira, no governo da presidente Dilma Rousseff, o Fies chegou a atender 700 mil alunos em um ano. Mas, com modificação que sofreu em 2017, no governo de Michel Temer, o financiamento estudantil ficou mais caro, e o número de beneficiários caiu até chegar a menos de 36 mil matrículas atualmente, disse o deputado.

“Eu acho que o Fies de hoje só está sendo bom para o banco, que administra. O aluno não está concluindo, ele está ficando inadimplente, porque ele não tem condição de pagar. Não é um financiamento social", reclamou.

Segundo ele, as instituições não conseguem ter sustentabilidade financeira. "Em nenhum lugar do mundo, nem em qualquer financiamento do mundo, não existe um fundo garantidor que chega a 60% do que arrecada, e o governo não está tendo resolutividade no programa.”

Limite de renda
O coordenador-geral de Financiamento Estudantil no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rafael Tavares, explicou que atualmente o pagamento do financiamento não está condicionado a um porcentual mínimo da renda do beneficiário. Com isso, pode atingir até mais da metade do que o estudante recebe depois de formado. Rafael Tavares adiantou que o comitê gestor do Fies estuda limitar a cobrança a, no máximo, 13% da renda do participante.

Quanto ao projeto de Átila Lira, o representante do FNDE afirmou que não há previsão de recursos no governo federal para arcar com os custos da medida. Segundo cálculos do próprio deputado, a subvenção das bolsas de estudo custaria em torno de R$ 7 bilhões ao Executivo.

Proposta de Átila Lira reformula o Fies - (Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados)

Para Átila Lira, no entanto, o impacto social compensaria o investimento.

“Socialmente, eu acho que é um investimento muito positivo para que a gente possa fazer com que o Brasil melhore seus índices educacionais, pelo menos próximo aos nossos países vizinhos, que chegam a níveis de 30%, 40%, 50% de jovens no ensino superior, e hoje a gente não chega a 20%”, comparou.

De acordo com o diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior, Celso Niskier, apesar de o valor total parecer elevado, o governo gasta bem menos com subsídio a um aluno da rede privada que com aquele matriculado no ensino superior público. Niskier afirma que um jovem com bolsa integral do Prouni, programa do governo federal, custa o equivalente a 16% do valor investido em um estudante da universidade pública.